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Escolas médicas dos MS não observam critérios para oferecer formação de qualidade

Dos quatro municípios sul mato-grossenses que sediam escolas médicas, apenas Campo Grande atende todos os critérios considerados ideais para o…

18 jun 2021 às 07h02 |

Dos quatro municípios sul mato-grossenses que sediam escolas médicas, apenas Campo Grande atende todos os critérios considerados ideais para o funcionamento de uma faculdade de medicina. É o que mostra o estudo Radiografia das Escolas Médicas, divulgado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que avaliou a existência de hospital de ensino, quantidade de leitos e alunos por equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) nos estados, e que conclui que 75% das faculdades do Mato Grosso do Sul apresentam algum problema para funcionar de acordo com os três parâmetros considerados ideais. 

Três Lagoas, por exemplo, possui 1,88 leito por aluno, quando o ideal seria pelo menos cinco leitos para cada aluno. Situação parecida ocorre em Corumbá, onde foi aberta a mais recente faculdade de medicina no Mato Grosso do Sul, que oferece 2,94 leitos públicos por aluno. Para o CFM, a falta de locais de prática é resultado da abertura desenfreada de escolas médicas. A falta de infraestrutura e de campos de estágio prejudica a formação dos novos médicos e, a longo prazo, pode comprometer a saúde da população brasileira. 

Mato Grosso do Sul reúne hoje 1% (6) das escolas de medicina do País, que oferecem cerca de 438 vagas em cursos de medicina em quatro municípios. São quatro escolas públicas e duas privadas, que cobram, em média, R$ 9 mil de mensalidades.  

Para o coordenador da Comissão de Ensino Médico do CFM, conselheiro federal Júlio Braga, a falta de campos de estágio faz com que o aluno comece a trabalhar sem ter treinado as habilidades necessárias a um bom médico. “Quando eu era estudante, há mais de 30 anos, acompanhava de 3 a 4 pacientes por plantão. Hoje, há situações em que um paciente é acompanhado por 15 estudantes. Estressa pacientes e alunos”, conta. 

“Durante sua formação, o estudante deve ter contato com o maior número de pacientes possível. Só assim, ele aprende a colher histórias, a fazer uma boa anamnese e diagnósticos certeiros. Com a falta de campos de estágio, ele chega ao mercado sem ter desenvolvido essas habilidades”, complementa o diretor de Comunicação do CFM, Hideraldo Cabeça, também professor e coordenador da Comissão de Residência Médica do Pará. 

Leitos de internação – Na avaliação do CFM, os critérios mínimos para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra adequadamente são: oferta de cinco leitos públicos de internação hospitalar para cada aluno no município sede de curso; acompanhamento de cada equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) por no máximo três alunos de graduação; e presença de hospital com mais de cem leitos exclusivos para o curso. 

Todos esses itens constavam das Portarias do Ministério da Educação 2/2013 e 13/2013, que condicionavam a abertura de escolas médicas em municípios que respondessem adequadamente às exigências. Contudo, esses critérios – também defendidos pelas entidades médicas – foram flexibilizados por meio da Portaria 5/2015. O texto em vigor manteve os parâmetros, mas eliminou o detalhamento de números, tornando-os subjetivos. 

De acordo com o levantamento, 75% dos municípios sul mato-grossenses que sediam escolas médicas não possuem número de leitos suficientes. Atualmente, são 2.095 leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) disponíveis nos quatro municípios do estado com escolas médicas. Porém, a distribuição é desigual: enquanto em Campo Grande são mais de cinco leitos por aluno, em Três Lagoas a quantidade não alcança 2 leitos. 

Locais de prática – Além dos leitos hospitalares, a presença de equipes de saúde da família é outro importante ambiente de prática para os estudantes de medicina.  Os municípios sul mato-grossenses que sediam as escolas médicas, apresentam o parâmetro ideal de alunos por equipe de ESF. São 339 equipes de saúde disponíveis para os estudantes de medicina. 

O levantamento do CFM também identificou a carência de hospitais de ensino em todo o País. No estado do Mato Grosso do Sul, apenas as escolas da capital são beneficiadas com hospitais apropriados para a docência. Numa situação ideal, as faculdades de medicina teriam seus hospitais e ambulatórios para que os estudantes do internato, no 5º e 6º anos, praticassem o estágio. 

Júlio Braga pontua que onde faltam unidades de saúde, equipes de saúde da família e leitos, também faltam preceptores para acompanhar os estudantes. “Se o município não tem unidades e equipes de saúde em número suficiente, como vai ter um médico treinado e qualificado para acompanhar o estudante?”, questiona. 

Padrão europeu – Em 2020, o Brasil registrou a razão de 10 recém-formados em medicina para cada grupo de 100 mil habitantes. Se ficássemos neste número, estaríamos próximos, aos percentuais do Chile (8,82), Estados Unidos (7,76), Canadá (7,7), Coreia (7,5), Japão (6,9) e Israel (6,9). 

O prognóstico, no entanto, é que, daqui a seis anos, quando todas as vagas criadas recentemente (37.423) entregarem seus primeiros formandos, teremos ao menos 17,7 egressos por 100 mil habitantes. Essa média será maior do que a existente hoje em Portugal (16,88), Holanda (15,95), Austrália (15,45), Espanha (14,48), México (13,54), Reino Unido (12,87), Alemanha (12,01) e França (9,46). 

Como a distribuição das escolas se dá de forma desigual, em 25 estados – entre eles Mato Grosso do Sul – já existe hoje uma densidade de vagas superior à média nacional. Desses, onze estados já possuem índices iguais ou superiores aos dos sete países melhor classificados no ranking da OCDE. Confira no gráfico abaixo: 

Saiba mais em Radiografia das Escolas Médicas

(Com Assessoria)