Rafael Primot fala sobre o desafio de interpretar seu primeiro vilão, o abusador Ramiro, na série “Aruanas”
No ar no Globoplay em “Aruanas”, Rafael Primot faz um balanço sobre o seu personagem, Ramiro, um homem violento e…
No ar no Globoplay em “Aruanas”, Rafael Primot faz um balanço sobre o seu personagem, Ramiro, um homem violento e passional que tem um relacionamento abusivo com Clara (Thainá Duarte). Bem diferente de Osiel, de Deus Salve o Rei, ou Stephanie, de Tapas & Beijos.
O ator, assim como todo o elenco, gravou as cenas entre o fim de 2018 e início de 2019, no coração da Floresta Amazônica. Ele fala sobre a experiência e revela estar muito empolgado com a série, no ar desde 1 de julho.
– Eu acho que Aruanas vem em um momento excelente. Apresenta uma temática muito pertinente a respeito da biodiversidade, da ecologia, da Amazônia, pautas muito importantes e caras de serem discutidas nesse momento em que o país atravessa uma devastação florestal em nome de uma política de crescimento econômico – completa o ator.
É o primeiro vilão de Primot na TV, que até então tinha feito personagens que caíam nas graças do público, como a travesti Stephanie de Tapas & Beijos. Para encarar o desafio, ele teve que estudar e também buscou referências ao entrevistar vítimas de violência.
– Para fazer o Ramiro, eu não me espelhei em ninguém conhecido, mas eu assisti àquele seriado “Mulheres que amam demais”, e li o livro também. Apesar de ser um livro de mulheres passionais, ele foi muito inspirador, junto a algumas referências visuais. Além de alguns depoimentos que assisti em um documentário de violência contra as mulheres, no qual elas descrevem os namorados como sendo muito dóceis, dizendo amá-las e que nunca conheceriam ninguém igual a eles. Eu parti desse princípio – conta.
Em cena, Rafael teve que encontrar a raiva, algo bem presente no perfil psicológico de Ramiro. Para imprimir essa emoção latente em cena e deixar o público mais próximo dessa pessoa, ele buscou esses sentimentos “adormecidos” e levou tudo para a frente das câmeras.
– A construção do personagem foi um processo de estudo, então eu vi muitas referências, assistia a muitos filmes e documentários. Dentro disso, fui tentando encontrar as motivações dessa pessoa. Na hora da execução da cena, eu vasculhava minhas próprias emoções de raiva ou de violência, que todos têm, mas que deixamos escondidos ou “aprendemos” a não usar. Parti então desse caminho, mas principalmente do caminho de um cara que está completamente apaixonado. Ele faz isso por amor. Pelo menos, acha que é amor – explica.
Apesar dessa violência toda estar restrita à atuação na trama, o ator diz que nunca é fácil fazer cenas desse tipo, desgastantes tanto física quanto psicologicamente. Além disso, ele tenta ao máximo deixar tudo certo para que não haja nenhum erro na marcação e que todos saiam sem nenhum machucado real.
– Gravar cenas de violência nunca são confortáveis, pelo desgaste físico e psicológico. Apesar de ser uma coisa ensaiada, de comum acordo, os atores estão lá para “se divertir”, mas sempre tem a situação do físico, a agressão da pessoa que está interpretando o outro papel, então eu sempre tenho muito cuidado com as minhas parceiras ou parceiros de cena. Nas cenas de briga, eu sempre tento ser aquele cara que puxa todo mundo para baixo e diz “calma, gente! Vamos ensaiar, vamos coreografar”, para que ninguém se machuque de verdade e que tudo funcione na hora. Eu acho que esse é o melhor resultado, pois a gente precisa fazer com que as cenas fiquem críveis, realistas para quem assiste, mas, ao mesmo tempo, ninguém pode se machucar. Então, é sempre bastante desgastante, mas quando é bem feito o resultado fica incrível e a gente, feliz, apesar de exausto (rs) – ressalta Primot.
O ator ainda conta sobre o seu aprofundamento nesse assunto, que ele já via em jornais, mas que, vivenciando essa experiência, teve uma noção mais completa de toda a situação complexa que envolve as mulheres que sofrem com o abuso e a violência.
– É difícil você dar conselhos para pessoas que passam por experiências trágicas ou de abuso, pois, às vezes, elas não veem a situação dessa maneira. Estão tão envoltas naquilo que até mesmo o casal não vê o que está acontecendo. Essa história de “relação de homem e mulher ninguém mete a colher” é mentira. A gente precisa se envolver e alertar as pessoas que vivem situações assim. É fundamental – alerta.
Apesar de Ramiro ser um cara com atitudes desprezíveis, Primot admite que aprendeu muito com ele, pois agora fica ainda mais atento a situações de abuso, em seus vários níveis.
– Eu sempre aprendo muitas coisas com os meus personagens. Eu ouvi muitos vídeos e histórias de mulheres que sofrem abusos e, na grande maioria dos casos, o que aprendi é que devemos ficar atentos para não nos tornarmos um abusado ou abusador em todas as relações, não somente de casal. Eu aprendi a ligar o meu alarme, meu sinal de alerta, a ficar o tempo todo de olho para não atravessar essa fronteira tênue entre o amor e essa relação abusiva, ou o abuso sutil em relações em que um se aproveita do outro – completa.
Rafael espera que o público veja que relações como a de Ramiro e Clara vão além do universo dos casais e podem acontecer em diferentes níveis.
– Eu espero que o público veja as atitudes dele e consiga enxergar, porque, quando olhamos de fora uma relação abusiva, conseguimos ter uma dimensão maior e ver com mais clareza esse tipo de relação. Que eles assistam e consigam entender, e relacionem, esse tipo de cena com a vida real, seja de namorado e namorada, de pai e filha, de professor e aluno. É importante e necessário se falar e trazer esse tipo de tema à tona a todo instante, pois o ser humano é falível. Nós somos falíveis principalmente quando não temos um embasamento, uma educação, uma base familiar mais forte e amorosa, então ficamos muito suscetíveis a cair em relações conturbadas, violentas, abusivas em diversos níveis. Eu espero que o seriado, assim como os outros temas importantes que ele traz, sirva para isso, para a gente se atentar, refletir e agir, que é para isso que a arte serve também – finaliza Rafael Primot.
Fonte: Assessoria