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Cultura

Diogo Nogueira lança nono álbum de estúdio, ‘SAGRADO, Vol. 2’

Com participação especial de Sandra Sá, o nono álbum de inéditas do sambista trata a união entre o sagrado e…

06 jun 2025 às 09h02 | Redação

Foto: Bruna Sussekind

Diogo Nogueira apresenta “ SAGRADO, Vol. 2 ”, projeto de estúdio que segue o álbum “SAGRADO, Vol. 1”, lançado no final de 2023. Nesta segunda parte lançada ontem (05), o amor permeia as sete faixas que se relacionam com as Mês dos Namorados. Com participação especial de Sandra Sá, o nono álbum de inéditas do sambista trata a união entre o sagrado e o profano e o amor em suas diversas formas.

“Esse álbum é interessante pois, quando ele fala do amor, não fala apenas sobre o amor entre duas pessoas. Ele fala sobre o amor pelo lugar que você mora; fala sobre o subúrbio, principalmente o do Rio de Janeiro; fala sobre aquele amor brincalhão, aquele que causa inveja… É o amor no geral, sempre de um ponto de vista positivo, o sagrado e profano que fazem as pessoas sendo felizes”, conta Diogo Nogueira.

Por Luiz Antônio Simas

Para as culturas de terreiro – e a cultura do samba é uma delas – entre o sagrado e o profano não existe oposição, mas integração e complemento: o sagrado profanado e o profano sacralizado se encontram nas encruzilhadas em que a vida acontece. É nesta perspectiva que Diogo Nogueira, após lançar o álbum “SAGRADO, Vol. 1”, apresenta “SAGRADO, Vol. 2”, um trabalho marcado por um repertório que aborda o cotidiano do povo brasileiro a partir de um elemento comum a todas as faixas: o amor. Amor por uma pessoa, uma cidade, uma cultura; amor pela rua.

Ouça Aqui: https://orcd.co/sagrado2

Em “ Já Deu Tudo Certo ” (Rafael Delgado e Robinho), canção que abre o trabalho, a luta pela sobrevivência do dia a dia é bordada pela alegria que dribla os perrengues e pela afirmação da pluralidade religiosa como caminhos para a construção de um país mais generoso. “Essa canção fala de fé, amor e força, tudo que me move”, conta Diogo Nogueira.

Já em “ Ninguém Segura O Nosso Amor ” (Peu Cavalcante/ Rodrigo Leite/ Cauique), o amor descrito em um samba capaz de levantar a poeira dos salões é aquele que faz barulho, incomoda o vizinho careta, tem delírios de dominar o mundo e anda perto da paz e da loucura de dois malucos juntos. É faixa para dançar juntinho, honrando as regras das velhas gafieiras. “Essa faixa fala sobre duas coisas que caminham juntas: o sagrado e o profano. É uma brincadeira maravilhosa sobre o amor feliz e brincalhão, e é uma das minhas canções favoritas desse álbum”, revela o cantor.

“ Coisas do Amor (Me Chama) ” (Diogo Nogueira / Rodrigo Leite e Claudemir) traz o encontro entre Diogo e Sandra de Sá. A pegada do samba com o veneno do balanço, evoca os bailes suburbanos cheios de charme, com o suingue da melhor música preta brasileira. Os versos diretos encaminham a conclusões sem rodeios: quero escrever minha história com você. “Escrevi Coisas do Amor (Me Chama) em uma época que estava ouvindo muito Tim Maia, alguém que sou muito fã. Depois de desenvolvê-la melhor com Rodrigo Leite e Claudemir, dois grandes compositores, chamei Sandra de Sá para cantar comigo – voz que se encaixou perfeitamente com o tipo de melodia que estávamos procurando”, diz Diogo Nogueira.

“ Iluminou ” (Gabi D´Paula) é um samba sincopado dos bons. Diogo passoua com maestria pela melodia apimentada e o ritmo quebrado, honrado a tradição dos maiores craques do telecoteco brasileiro para falar do amor como caminho de renovação da vida. “É um samba escrito por uma grande amiga, Gabi D´Paula, que canta comigo no palco como backing vocal e é também uma grande compositora. Essa canção tem uma melodia moderna, de cara fiquei apaixonado pela essência que ela carrega”, afirma o cantor.

Em seguida, em “ Como Eu Seria Sem Você ”, Thiago da Serrinha, um multi-instrumentista espetacular, mostra uma faceta de compositor inspirador, não apenas como melodista, mas também como letrista que passoua pela cultura brasileira para falar de amor em um Rio de Janeiro cerzido entre Madureira, Ipanema, Leblon e Mangueira. “Fiquei apaixonado assim que escutei Como Eu Seria Sem Você . Esse samba tem uma sacada muito interessante ao falar sobre os elementos, lugares e compositores do Rio de Janeiro, que são nossas referências”, conta Diogo Nogueira. No fim das contas, a declaração à pessoa amada da canção se mistura ao canto de amor pelo país e pela cidade.

“ Tela Quente ” é um samba cheio de síncopes, feito para levantar a poeira na roda das saias e no solado dos sapatos dos malandros. A evocação da letra aos filmes populares aposta na dualidade entre o amor da vida real e aquele retratado nas telas de cinema e da televisão, para concluir que no fim das contas os verdadeiros protagonistas não estão na telinha, mas na vida real.

Para fechar o projeto, “ Quem Dera ”, mais uma pedrada de Thiago da Serrinha. A letra e a melodia passaramam pelas sinuosidades de um amor (de rabo, de olho e canto de boca) carioca e suburbano, com direito a rogação na Igreja de Nossa Senhora da Penha, esfirra no coração do Méier, samba de Arlindo Cruz e uma conclusão arrebatadora: o samba é uma oração para “sair do distúrbio e morar no subúrbio teu do coração”. Coisa de craque!

Sagrado e profano, caseiro e da rua, lírico e preciso, com um canto que ora evoca a objetividade de um passe genial do Zico, ora ginga como uma Garrincha que deixa o marcador desnorteado, Diogo Nogueira sintetiza em seu novo trabalho as maneiras brasileiras de viver o amor: o sagrado, afinal, é profano em um país que samba como quem reza e reza como quem samba.