Em tempos de Metaverso, realidade virtual ganha espaço no tratamento dos impactos da pandemia na saúde mental
Durante a crise sanitária, Brasil se tornou o país mais ansioso do mundo, de acordo com a OMS, e a…
Durante a crise sanitária, Brasil se tornou o país mais ansioso do mundo, de acordo com a OMS, e a retomada da rotina tem ampliado os casos de medos e fobias
Acordar, se arrumar, tomar o café da manhã e sair para ir se exercitar na academia. Depois, pegar o transporte para o trabalho e permanecer por lá durante horas ao longo do dia. A maioria da população já retomou essa rotina ao qual estava acostumada antes da pandemia de Covid-19, no entanto, para uma grande parcela, basta lembrar dela para começar a suar, sentir o coração acelerar e até mesmo perder o sentido. Para essas pessoas, no mundo real, passar por tudo isso seria muito perigoso. No entanto, em um espaço seguro, controlado, com o acompanhamento de um profissional ao lado e sem riscos físicos, quem sofre de transtornos da ansiedade, como as fobias, pode se beneficiar, e muito, de uma experiência desenvolvida inicialmente para o entretenimento: a realidade virtual (RV).
Pioneira no tratamento de fobias com RV no Brasil, a psicóloga Dra. Marihá Lopes utiliza a tecnologia há cerca de cinco anos. Ela destaca a importância da ferramenta, mas ressalta que o seu papel é complementar e precisa ser feito com acompanhamento adequado.
– O trabalho feito com a realidade virtual amplia a atuação da técnica chamada dessensibilização sistemática. Esta possui o propósito de criar uma hierarquia de exposição junto com o cliente e ir avançando conforme for havendo melhoras e diminuição da ansiedade – explica a psicóloga clínica especialista em terapia cognitivo-comportamental, EMDR e psicologia social.
A tecnologia utilizada pela psicóloga consiste numa plataforma online que disponibiliza mais de 30 situações que despertam a fobia e a ansiedade e um headset, por onde passam os casos.
De acordo com a psicóloga, a tecnologia possibilita inserir a pessoa nas situações das quais ela possui medo ou que ativem sua ansiedade, como, por exemplo, ficar em ambientes fechados e viajar de avião, casos mais recorrentes entre as pessoas que a procuram. Com a Realidade Virtual, o paciente passa por todas as etapas que faria de verdade, como aguardar o táxi em casa, a caminho do aeroporto, no portão de embarque e dentro da aeronave.
– Em cada uma dessas etapas, é possível adicionar agravantes, como a turbulência durante o voo. O diferencial é a possibilidade de colocar a pessoa em uma situação preexistente de forma segura e prática – ressalta.
Pandemia aprofundou os transtornos mentais
Durante a pandemia, o Brasil se tornou o país mais ansioso do mundo e dispararam os casos de transtornos como a agorafobia (medo de locais e situações que possam causar pânico, impotência ou constrangimento, como sair de casa, lugares públicos, fechados, multidões ou viajar sozinho). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a ansiedade já atinge o número recorde de 18,6 milhões de brasileiros e não para de crescer. Voltar ao trabalho presencial, ir à academia ou pegar transporte público, por exemplo, têm sido tarefas impossíveis para muita gente.
– Problemas socioeconômicos, pressão, estresse, medo e a crise financeira nacional são apenas alguns dos fatores que impulsionam o surgimento desse dado alarmante. Mesmo com o avanço da vacinação e a retomada da rotina pré-pandêmica, muita gente não está conseguindo fazer a transição. Na verdade, apenas pensar na possibilidade do retorno à vida normal já causa desespero em quem se encontra com este quadro – aponta Marihá.
Na visão da especialista, a aceitação da tecnologia, mais especificamente, da gamificação na psicologia só cresce entre pacientes e comunidade científica, necessitando apenas de maior divulgação e esclarecimento.
– A tecnologia já presta contribuições inestimáveis em diversas áreas. Chegou a hora e a vez da psicologia explorar suas possibilidades – conclui.
Mais informações em https://www.marihalopes.com/