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“Um povo que não conhece sua história está fadado a repeti-la”, cita Daniel Chagas, que vive torturador no longa “Entrelinhas”

Filme, dirigido por Guto Pasko, é baseado em caso real de jovem que foi presa e torturada por engano Na…

23 ago 2024 às 14h42 |

Filme, dirigido por Guto Pasko, é baseado em caso real de jovem que foi presa e torturada por engano

Na pele do controverso Major Borges, o ator Daniel Chagas cita a famosa frase de Edmund Burke para explicar a importância de seu personagem e do longa: “Um povo que não conhece sua história está fadado a repeti-la”. E a história é pesada. O personagem é encarregado do Exército Brasileiro para executar a investigação sobre as ações da VAR-Palmares no Paraná. É esta investigação que conduz o filme “Entrelinhas”, que estreia dia 22 de agosto nos cinemas. A trama começa com a prisão de Elias (Renet Lyon) e, logo depois, de Ana Beatriz Fortes (Gabriela Freire). O longa acompanha os dias que ela passa, desde sua detenção até ser devolvida à família pelo Major Borges com a infame frase: “Desculpe, foi um engano”.

“O meu personagem não tortura ninguém fisicamente, porém ordena, presencia e coage. Ele é um homem rigoroso, discreto, determinado, obediente, mas também sensível. Esta sensibilidade contrasta com as demandas do serviço que ele precisa executar, mas podemos ver no decorrer do filme, que Borges cria uma relação de empatia e ternura com a Ana Beatriz Fortes. Este conflito foi uma indicação preciosa do Guto, pois dá ao Borges complexidade, profundidade e um grande problema a resolver. Todo bom personagem tem uma crise a dar conta e o Borges tem, felizmente!”, define Daniel.

Professor de interpretação para audiovisual na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), Daniel Chagas já atuou na novela “Terra e Paixão” (2023), como o Breno, e nos longas “Macabro” (2020), “Um Natal Muito Atrapalhado” (2020) e “O Plano dos Vilões” (2022). Além de ter recebido o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante, no New Jersey Film Awards, em 2021, pelo papel no curta “Até Que Ponto?”, de Ricardo Soares. Para seu novo personagem, sem ter servido ao Exército e sem militares na família, Daniel estudou o comportamento dos oficiais da década de 70. “Pessoalmente, tenho muitas diferenças com Borges, e foi desafiador entrar na pele de um homem que persegue e ordena a tortura de pessoas por acreditar estar cumprindo um dever profissional e patriótico. Meu desafio foi humanizar um homem que, para mim, possui atitudes totalmente desumanas. No entanto, não é sobre minha opinião pessoal. Borges serve a uma obra que retrata um cenário histórico do país. Com o apoio do diretor Guto Pasko, meu objetivo foi evitar uma caricatura maléfica e retratar um ser humano que segue ordens e valores com determinação”, afirma.

Uma das cenas mais difíceis de serem realizadas foi quando, já pressionado pelos superiores do Exército, Borges se vê desesperado e sem alternativas, e pela primeira vez se descontrola porque a investigação não está dando o resultado esperado. A outra foi quando o major leva Ana Beatriz de volta à casa dos pais. “É como se ele tirasse a farda e falasse como pai, mas sem poder fazê-lo. São duas cenas que se destacam pelo desafio técnico e emocional que representaram”, avalia Daniel.

Idealizado pela GP7 Cinema em 2012, após a instauração da Comissão da Verdade pelo governo Dilma Rousseff, o filme traz à tona histórias desconhecidas da ditadura. “Hoje, com o Brasil tendo vivido uma tentativa de golpe apoiada por militares e civis clamando por intervenção, o filme não é apenas um alerta histórico, mas uma luz sobre as fissuras do presente. Nos últimos anos, houve um crescente apelo por um regime militar no Brasil, sob justificativas como segurança e ordem. Durante o governo de Jair Bolsonaro, assistimos a discursos, ações e tentativas concretas de minar as instituições democráticas”, alerta o ator.

Foto: Divulgação/Assessoria/Reprodução